O estudo da Antiguidade Oriental nos permite abordar a questão das fontes do poder e de sua representação. Em que circunstâncias um indivíduo passava a exercer o poder sobre os outros? Uma vez estabelecido no poder, fosse um rei, imperador ou sacerdote, esse indivíduo sempre buscava sua representação, por exemplo, por meio da Arte. Dessa forma, em que medida a produção artística poderia representar ou expressar o poder de um governante ou de um grupo social sobre os outros? Vejamos. =*
Instalada no extremo nordeste da África, em região desértica, a civilização egípcia floresceu às margens do rio Nilo, beneficiando-se de seu regime de cheias. As abundantes chuvas que caem durante certos meses do ano na nascente do rio, ao sul, provocam o transbordamento de suas águas e o consequente depósito do Húmus fertilizante em suas estreitas margens. Ao final do período de cheias, o rio voltava ao seu leito normal e as margens, naturalmente fertilizadas, tornam possível uma rica agricultura.
Contudo, diante do aumento populacional que aconteceu durante a época neolítica, faziam-se necessárias obras hidráulicas, como a construção de diques e canais, para o cultivo agrícola. Estudo e pesquisas arqueológicas e históricas apuraram que a organização do trabalho às margens do Nilo, a construção de diques e obras hidráulicas couberam, inicialmente, às coletividades locais e regionais conhecidas como Nomos e, mais tarde, foram articuladas a uma estrutura governamental central mais complexa.
Ao longo da história egípcia, a organização político-social estruturou-se em torno da terra e dos canais de irrigação, tendo o o Estado despótico o controle de toda a estrutura econômica, social e administrativa. Por meio de suas instituições burocráticas, militares, culturais e religiosas, o Estado subordinava toda a população e garantia a realização das obras de irrigação.
Seu modo de produção era o Asiático, modelo também encontrado na Mesopotâmia e baseado sobretudo no regime da servidão coletiva, em que os indivíduos exploram a terra como membros das comunidades locais e servem ao Estado, o maior proprietário de terras, por meio de tributo e trabalho.
No período Neolítico surgiram ao longo do Rio Nilo, como já destaquei, os nomos, que eram comunidades agrícolas chefiadas por um monarca. O crescimento da população, as disputas regionais e a expansão das atividades agrícolas, graças às obras de irrigação e drenagem, contribuíram para a fusão dos nomos e a formação das Cidades. Por volta de 3500 a.C., haviam-se formado dois reinos: o do Alto Egito, ao Sul, e do Baixo Egito, ao Norte, na região do Delta do Nilo.
Em 3200 a.c., Menés(Namer, Men ou Meni), governante do Alto Egito, impôs a unificação dos dois reinos, subordinando 42 Nomos e tornando-se o primeiro Faraó. Dessa forma, os nomarcas transformaram-se em funcionários, representantes do poder central, administrando aldeias e cidades, arrecadando impostos e fazendo cumprir as decisões do Faraó.
A unificação determinou o início do período dinástico na história egípcia. O Faraó passou a concentrar todos os poderes em suas mãos, sendo cada vez mais considerado um Deus vivo. Boa parte das terras passou a ser controlada por ele, a quem a população deveria pagar tributos e servir, por meio do trabalho compulsório.(aquele cujo o trabalhador foi recrutado sem seu consentimento voluntário do qual não poderá se retirar, se assim o desejar, sem ficar sujeito a uma possibilidade de punição. Uma definição como essa nos leva a considerar o trabalho compulsório como uma forma de escravidão) A personificação do Estado na figura do Faraó e sua identificação como um Deus permite-nos, portanto, falar em uma Monarquia Teocrática no Egito Antigo.
Antigo Império (3200//2300a.C.)
Após a Unificação, a capital Egípcia passou a ser Tinis, sendo mais tarde transferida para Mênfis, na região do Cairo( Atual capital do Egito ). Além de trabalhar na agricultura( nas terras do faraó, dos templos ou de funcionários ), a população era obrigada a participar da construção de obras e irrigação das aldeias e nomos e também na construção dos grandes monumentos aquitetônicos, como as pirâmides, que constituíam templos funerários do faraó e sua família.
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O Antigo Império representou um longo período de relativa estabilidade política e social, interrompido, entretanto, perto de 2300a.C. Por essa época, a diminuição das enchentes do Nilo, a fome, as pestes, o tamanho da estrutura burocrática, as tributações, as revoltas sociais, bem como o fortalecimento dos nomarcas e disputas entre eles levaram à fragmentação do poder político e sua consequente descentralização. Ao mesmo tempo, o quadro de descontrole político ampliou a crise econômica com a desorganização da produção agrícola. Era o fim do Antigo Império, uma época de dificuldades e fraqueza imperial que facilitaram as invasões asiáticas ao Norte do Egito, na região do Delta.
Médio Império( 2000//1580a.C. )
No final do século XXI a.C., sob a liderança do faraó MentuhotepII( 2061/2010 a.C.) iniciou-se uma luta vitoriosa contra os nomarcas, reestabelecendo o poder central e a unidade do Império. A cidade de Tebas foi transformada na nova Capital e a administração centralizada fundada no regime de servidão coletiva foi reestabelecida, o que permitiu a ampliação dos canais de irrigação e contentação, abrindo novas áreas para a exploração agrícola.
A prosperidade material sustentada no trabalho servil resultou também na construção de majestosos templos e tumbas, além do florescimento das artes pictóricas e da literatura egípcia.
No entanto, a riqueza era privilégio de poucos e as comunidades camponesas continuavam a ser refratáriaspenetração estrangeira, com a chegada dos Hebreus e a invasão do Egito pelos Hicsos.
O domínio deste povo sobre o Egito
Novo Império
O Longo domínio dos Hicsos acabou por unir os egípcios contra esse inimigo comum. Na cidade de Tebas, sob a liderança de Amósis I, iniciou-se uma insurreição que levou à expulsão dos invasores. A unidade política foi reestabelecida inaugurando-se o Novo Império, que seria considerado o apogeu da civilização egípcia.
O forte sentimento de identidade cultural e política que havia unido o povo egípcio contra os Hicsos levou-o a dominar e a escravizar os Hebreus. Por volta de 1250 a.C., os Hebreus, sob a liderança de Moisés, conseguiram fugir do Egito, no episódio que ficou conhecido como Êxodo e está registrado no Antigo Testamento da Biblía.
As várias datas bíblicas sobre a época do 'cativeiro' dos Hebreus no Egito e mesmo sobre o êxodo ainda geram muitas discussões. É mais aceito, atualmente, que tais acontecimentos pertençam ao século XIII a.C., época do Novo Império, e não ao Médio Império, como a usual tradição apontava.
O Novo Império apresenta características singulares, como a expansão territorial. Os Egiptólogos destacam o surgimento dos comerciantes, ao que parecem dependentes do palácio e dos templos, mas fazendo algum comércio dentro do Egito e especialmente com a Ásia, incluindo o tráfico de escravos. Saindo do seu isolamento, os egípcios, principalmente sob Tutmés III ( 1480/1448a.C. ), conquistaram vastos territórios, chegando ao sul às portas do Sudão e a leste até a Mesopotâmia, subjugando sírios e fenícios.
Como Estado centralizado que controlava a economia do país, com um governo e funcionários administrando inclusive os templos, terras homens, barcos e rebanhos, cobrando tributos e trabalhos, além daquilo que era produzido nas terras do próprio palácio, o governante se impunha como senhor supremo do Egito. Foi com tal poderio que o Faraó Amenófis IV
( 1377/1358a.C. ) fechou os templos e confiscou bens em favor da divindade Aton, buscando profundas reformas de cunho político-religioso.
A reforma de Amenófis IV tendia para uma substituição do politeísmo tradicional centrado principalmente no deus Amon-Ra por uma maior valorização ao deus Aton representado pelo círculo solar, aproximando-se de um culto quase monoteísta. O próprio faraó mudou seu nome para Akhenaton( Ech-n-Aton = "Aquele que adora o Aton") e fundou uma nova capital próxima de Tebas( Akhetaton = "Horizonte do disco solar" ).
A longo prazo, porém, suas reformas não vingaram, ao que parece devido às crenças tradicionais e à impopularidade da nova religião. Com a morte de Amenófis IV, o sucessor Tutancâmon reestabeleceu a religião tradicional politeísta.
As conquistas militares foram retomadas no reinado de Ramsés II (1292/1225a.C.), que derrotou diversos povos asiáticos, como os hititas. Pode-se dizer que o auge da civilização egípcia foi atingido durante o longo governo desse faraó, não apenas devido às vitórias militares conseguidas, mas também aos monumentos arquitetônicos do período. Após o seu reinado, mais uma vez esfacelou-se o poder central e teve início o período de decadência da civilização egípcia. As lutas entre os sacerdotes e destes contra os faraós multiplicaram-se e aprofundaram-se até o questionamento do poder do monarca por um sumo-sacerdote.Devido a problemas internos, por volta de 1100 a.C., o Egito voltou a se dividir em dois reinos, Alto e Baixo Egito, com governos rivais disputando o poder. Isso enfraqueceu ainda mais o Estado, o que estimulou a invasão dos Assírios, em 662 a.C., liderados por Assurbanipal.O Egito ainda se voltaria a ser independente durante um breve período denominado Renascimento Saíta, numa referência a Saís, sua nova e última capital. Tal período teve início quando Psamético I (655/610 a.C. ) liderou uma sublevação contra os Assírios e tornou-se Faraó. Durante o Renascimento Saíta, o Egito desenvolveu notavelmente o comércio, tendo o faraó Necao, inclusive, financiado uma expedição fenícia que contornaria a costa africana ( fato que só seria repetido vinte séculos depois, no período das Grandes Navegações.)
Entretanto, uma nova série de lutas internas e sublevações camponesas abriria caminho para novas invasões estrangeiras: em 525 a.C, os persas, comandados por Cambises, derrotaram os egípcios na batalha de Pelusa e conquistaram definitivamente a região. A partir de então, o Egito deixaria de ser independente por pelo menos 2 500 anos, período em que se tornaria, sucessivamente, província do Império Persa, território ocupado por macedônios, romanos, árabes, turcos e finalmente ingleses.
As invasões constantes teriam, como veremos, grandes feitos sobre a cultura egípcia, sobretudo o domínio macedônico, que permitiria a penetração das idéias gregas. Esse domínio instaurou uma disnatia de origem macedônica, chamada ptolomaico ou lágida, à qual pertenceu Cleópatra. Seu filho com o Imperador Romano Júlio César foi o último rei ptolomaico, após o qual a região caiu sob domínio romano e mais tarde árabe, que introduziram elementos culturais cristão e mulçumanos,respectivamente.
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ECONOMIA, SOCIEDADE E CULTURA NA CIVILIZAÇÃO EGÍPCIA
A economia egípcia apoiava-se na servidão coletiva: os camponeses eram obrigados a realizar grandes obras de irrigação coordenadas pelo o Estado, além de construirem depósitos de armazenagem, templos, palácios e monumentos funerários( Pirâmides ). Tal trabalho era quase sempre realizado nas épocas das cheias do Nilo, quando havia interrupção temporária das atividades agrícolas.
O Egito era grande produtor de cereais, notadamente trigo, além de algodão, linho e papiro. Havia criação de cabras, carneiros e gansos, e o rio oferecia a possibilidade da pesca. Desenvolviam-se também o artesanato, a produção de tecidos e vidros, além de significativa indústria de construção naval.
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A organização da Sociedade Egípcia era bastante rígida. No topo da sociedade encontrava-se o todo poderoso faraó com sua extensa famíia. Logo abaixo na hierarquia estavam os sacerdotes e grandes burocratas (cujas funções muitas vezes se confundiam) e chefe militares, principalmente no Novo Império. Essa elite descendia das grandes famílias dos nomarcas. Em seguida vinha a baixa burocracia, formada pelos escribas, conhecedores da complexa escrita hieroglífica e responsáveis pelos registros administrativos. Destaca-se ainda, no Novo Império, o grupo dos comerciantes.
Finalmente, a base da economia egípcia era formada pela grande massa de camponeses, submetidos aos trabalhos compulsórios e pela obdiência ao Estado. Eventualmente poderiam ser encontrados escravos, capturados nas guerras, embora tal categoria social não tivesse grande importância no sistema econômico egípcio.
A religião egípcia foi muito importante para a manutenção da ordem existente e, portanto, do domínio dos camponeses pelo Estado, chefiados por um `deus´ , o Faraó. Tratava-se de um culto políteísta, reflexo da diversidade de nomos e divindades que, fundidos, deram origem à civilização egípcia. Entretanto, alguns deuses em comum destacavam-se, como Amon-Ra, Osíris, Isis, Set, Horús, Anúbis e Ápis.
Como os egípcios acreditavam em vida após a morte e no retorno da alma ao corpo, cultuavam os mortos e desenvolveram técnicas de Mumificação para conservar os cadáveres, protegidos em seus túmulos devidamente acompanhados de objetos que seriam utilizados no retorno à vida. O desenvolvimento da prática da mumificação permitiu o maior conhecimento da anatomia humana, tornando possível a realização de intervenções cirúrgicas e o tratamento de doenças do estômago, coração e de fraturas.
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As técnicas desenvolvidas para a construção de templos religiosos, funerários e obras hidráulicas, por sua vez, significaram um soberbo avanço da Arquitetura e da engenharia. O interesse pela ciência demonstrado pelos egípcios é bastante claro em seus estudos de astronomia, o que resultaram na criação de um calendário solar composto por 12 meses de 30 dias.
Com relação às artes, não se pode negar sua conotação religiosa. A pintura egípcia, destinada à representação de deuses, faraós e da nobreza em geral, caracterizava-se pela ausência de perspectiva, enquanto a escultura, muitas vezes monumental, apresentava extrema rigidez em suas linhas. Na Literatura, cultivavam a poesia, e uma de suas peças mais famosas foi o "Hino ao Sol", composto por Amenófis IV.
A Escrita egípcia, bastante sofisticada, desenvolveu-se de três formas:
-> a Hieroglífica, considerada sagrada; a mais antiga e composta por mais de 600 caracteres;
->a Hierática, uma simplificação da anterior;
->a Demótica, mais recente e popular, formada por cerca de 350 sinais.